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Passado, presente e futuro da universidade brasileira.

Em entrevista ao Jornal da Unicamp, Roberto Romano analisa o surgimento, evolução e cenários dessa instituição.

Ao ser interrogado a respeito das razões para o surgimento tardio da universidade no Brasil, Romano afirma que a política de Portugal foi extremamente restritiva para as colônias e que, como em toda a América do Sul, tinha as ordens religiosas como principal núcleo, e que os colégios eram os transmissores de cultura. Os únicos conteúdos passados eram os permitidos pela Igreja, dentro do espírito de contra-reforma. “A relação só começou a mudar com o Marquês de Pombal (1699-1782), um adepto das luzes. Mesmo assim ele não modificou substancialmente a política em relação às colônias”. (Roberto Romano)
Quando o Jornal lhe pergunta se esse surgimento tardio se deve, de fato, à postura de Portugal, Romano reafirma o que disse anteriormente, e ainda lembra que nos programas contra o domínio de Portugal e nos projetos de uma república no Brasil, os insurgentes queriam uma universidade e uma fábrica.
Mesmo com o atraso, em relação a outros países da América do Sul, a universidade brasileira hoje se consolida como mais sólida e mais produtiva da América do Sul, como afirma o Jornal da Unicamp. A partir disso, Romano é questionado a respeito de como isso foi possível. Como resposta, ele cita vários elementos, como o trabalho dos positivistas, mesmo contrários à universidade, para a divulgação do ensino e da prática científica no país; as academias militares e a valorização dos estudos por eles; a luta dos paulistas contra a ditadura de Vargas, onde ficou claro a necessidade do saber politécnico e do científico; e a construção da PUC em São Paulo, coincidindo com a intenção de transformar o estado em um pólo de produção de conhecimento.
O Jornal então lhe pergunta quais são as matrizes de pensamento da universidade brasileira e onde as diferentes se divergem. O entrevistado cita alguns fatos: as teses do Renascimento, acentuadas no século XVIII; afirma que os republicanos eram leitores vorazes do pensamento inglês, de enciclopédias francesas, jornais dos Estados Unidos e da Europa; cita a biblioteca pública de Minas Gerais, onde, já no século 18, eram freqüentadas pela população; cita a influência do modelo norte-americano e do pensamento inglês, francês e italiano.
A respeito da Unicamp nesse contexto, como indagado pelo Jornal, Romano afirma que, “(...) assim como a Universidade de Brasília (UnB), seria o último florão da prática desenvolvimentista espalhada no período Juscelino Kubitschek (1902-1976).” O primeiro foi levar vida para o interior e, para isso, precisaria de estradas e de profissionais bem formados. A partir desses incentivos, universidades de grande porte como a Unicamp e a UnB foram criadas, bem como implantação de novos cursos e centros politécnicos, e impulsionando pesquisas científicas.
O J.U. afirma que “Alguns autores sustentam que a universidade brasileira estaria enfrentando hoje três crises: a financeira, a do elitismo e a do modelo.” E questiona o entrevistado a respeito de qual seria a mais grave. Romano acredita que a crise universitária é mais antiga, e que, desde a década de 60 vem sendo discutida a reforma universitária e, ainda, que boa parte dessa crise se deve à distorção do ensino público no Brasil. Cita que, a partir de 1965, com a privatização do ensino e incentivo a escolas particulares para as elites, as instituições públicas foram bombardeadas. Juntando esses fatos ao boom populacional a partir dos anos 50 e com a interiorização, a procura por essas escolas aumentou muito. Houve também a reforma universitária de acordo com o MEC/Usaid, copiando o modelo norte-americano, mas sem o padrão e a tradição de pesquisa. Burocratizou-se a universidade e, ao final do regime militar, encontramos a universidade pública sendo freqüentada por alunos de classe média e alta. Grandes intelectuais criticaram o fato da universidade sem qualquer enraizamento popular. “Esse desconforto entre a universidade e o mundo político começou a se estabelecer. (...) Os catedráticos passaram a ser cada vez menos ouvidos, enquanto os movimentos de classe dentro da universidade ganharam força. Isso levou a um enfraquecimento político muito grande. Quando se perde a importância no Estado, também se perde o acesso aos recursos, abrindo espaço para a crise financeira” (Roberto Romano). Ao comparar a universidade brasileira às quase-centenárias norte-americanas e às quase-milenares européias, a nossa se torna muito recente, e, conseqüentemente, mais apta a mudanças do que as mais antigas.

Blumenau, setembro de 2007. Trabalho entregue na disciplina de Metodologia do Trabalho Acadêmico do curso de Administração da Furb.

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